Minha vida nunca foi realmente um mar de rosas, ausências, desejos, sonhos. Filho único de mãe solteira, muitas discussões em casa. Daí, por causa de mudanças, fui embora, fui viver em outra cidade, e deixei minha mãe sozinha. Acabou que não deu certo e após dois anos, sem saber por que tudo ter dado errado mais uma vez, pedi arrego, e voltei para minha casa, ao lado de minha mãe.
Fazia tempo que não nos dávamos tão bem, companheiros, amigos, voltando a ser e ter aquele amor, que um dia por ignorância, ou por qualquer coisa havia se afastado.
Após um tempo, minha mãe por um problema ao procurar um médico, descobriu que teria que operar, toda aquele problema apreensão para saber se o que era o que seria aquele problema, dai, ocorreu na operação tudo bem, mas teve a notícia na qual não esperávamos, a terrível Quimioterapia, se eu parar para escrever, faço um livro descrevendo cada detalhe cruel e doloroso de um tratamento quimioterápico, tanto para quem faz, como para quem vive ao lado e vê o sofrimento. Após meses de tratamento surgiu a queda dos cabelos, os comentários dela, dizendo que estava um monstro. Mas eu só via a imagem daquela que sempre foi de suma importância para minha formação como homem como pessoa, caráter, nome, aparência, sou o que sou devido a ela, e ela se orgulhava ao dizer que aprendeu com o filho a falar palavrão.
Sempre encarei com confiança e esperança o que vinha pela frente, sabia que ela conseguiria, ela estava magra, bem mais magra do que aquela mulher que muitos conheceram, cheia de vivacidade e que sonhava com uma casa na praia.
Em janeiro de 2010 ela veio me contar que o câncer havia avançado, e além do fígado, estava no pulmão. Chorando, e juntos ela me pediu que não acabasse com as coisas que ela lutou tanto para construir, ela que sempre foi de uma luta sem igual, que a maior dor da vida dela era que não conheceria os netos, e eu sempre com meu jeito transloucado, infantil, e louco disse:
- Porrra mãe para com esta merda, vai dar tudo certo, em breve vamos comprar a casa, e vai ver como tudo ficará bem.
E ela me pediu que não a deixasse enterrar careca, que colocasse a peruca nela. Tempos depois fuçando nos exames, descobri que ela já sabia do pulmão havia meses, e não me contou para não me ferir.
Ai passeando com ela vi, uma cadelinha linda, fiquei apaixonado, custava caro para mim pois não estava recebendo tão bem, ela me olhou e com aquele olhar me disse, você não vai fazer isso, e daí mesmo assim comprei. Entreguei no colo da minha mãe, e disse:
- Mãe, essa é minha filha sua neta!
Os olhos dela se encheram d'água, e a Brida, se tornou a grande companheira de minha mãe.
Viajamos no carnaval para praia, nos desentendemos, como em qualquer família. Mas foi bom demais.
Ela completou aniversario em março no dia 22, fizeram onde ela trabalhava uma festa para ela, mas esqueceram de me convidar.
Ao finalizar o mês de março ela começou a ficar mais fraca o ar faltava, não tinha forças e eu novamente, assumia a função de ajudar na casa, arrumar a casa, limpar, lavar.
Logo no inicio de abril ela foi internada, com muita dificuldade de respirar. A primeira noite no hospital passei com ela, na segunda foi uma amiga, (família boa demais a minha), na noite liguei para o hospital pedi para falar com minha mãe, fui avisado que ela estava no respirador, falei deixa só ela me ouvir, dai ouvi algo que não dava para entender, mas compreendi que era minha mãe dizendo, oi.
Falei para ela:
- MÃEEE, TE AMOOO, VOLTA LOGO.
Eu ouvi, um eu Te Amo embargado e enrolado, pela dificuldade dela.
No terceiro dia de manhã uma amiga ao ir visitar minha mãe, pois eu não podia ficar somente mulheres, ela me avisou que minha mãe havia ido para UTI.
Após mais um dia perdi a pessoa que mais se importou comigo em minha vida.
(só clicar na foto para ampliar)
O que quero dizer com isso, com esse pedaço pessoal e intimo da minha vida?
Não deixe de dizer que ama, não deixe de cuidar, só damos real valor quando perdemos, tive minhas falhas, nunca fui, nem nunca serei perfeito. Mas dou o melhor de mim. Tive tempo de dizer que amo e quanto a amo. E que sou o que sou graças a ela, com meus erros, minhas falhas, e meus palavrões. Saudades.